Quem foram os órfãos de Duplessis? O maior escândalo da história do Québec
- Teógenes Santos
- 18 de ago.
- 2 min de leitura

Quando pensamos no Québec, logo lembramos da sua qualidade de vida, da cultura francesa preservada e da oportunidade que muitos imigrantes encontram aqui para recomeçar a vida.
Mas, por trás dessa imagem moderna e acolhedora, existe uma história sombria que ainda ecoa na memória coletiva: o caso dos órfãos de Duplessis.
Trata-se de um dos maiores escândalos da história do Québec, envolvendo o governo provincial, a Igreja Católica e milhares de crianças que foram injustamente internadas em instituições psiquiátricas entre os anos 1940 e 1950.
Neste artigo, vamos entender quem foram esses órfãos, o papel do governo e da Igreja e por que esse episódio ainda é discutido até hoje.
O que aconteceu?
Durante o governo de Maurice Duplessis, primeiro-ministro do Québec entre 1936–1939 e 1944–1959, milhares de crianças foram registradas como “doentes mentais” sem de fato apresentarem problemas de saúde.
Na prática, eram órfãos ou filhos de famílias pobres que viviam em orfanatos administrados pela Igreja Católica. O governo, em parceria com as instituições religiosas, recebia mais verbas federais ao classificar essas crianças como pacientes psiquiátricos do que simplesmente como órfãos.
O resultado?
Crianças saudáveis foram separadas da sociedade e internadas em manicômios.
Muitas sofreram abusos físicos, psicológicos e até sexuais.
Centenas de mortes ocorreram em circunstâncias pouco esclarecidas.
Por que a Igreja estava envolvida?
Naquela época, a Igreja Católica exercia enorme influência sobre a vida social no Québec. Hospitais, escolas e orfanatos estavam sob sua gestão, funcionando quase como uma extensão do Estado.
O medo do comunismo e a visão conservadora da época também ajudaram a justificar práticas abusivas. O discurso era de “proteger” a sociedade, mas na realidade havia interesses financeiros e políticos por trás das decisões.
Reconhecimento e indenizações
Décadas depois, a verdade começou a vir à tona. Sobreviventes passaram a relatar os traumas vividos, jornalistas investigaram os arquivos e historiadores comprovaram o esquema.
Nos anos 1990, o governo do Québec reconheceu oficialmente os abusos e iniciou programas de indenização para as vítimas conhecidas como “Orphelins de Duplessis”.
Ainda hoje, muitos sobreviventes e familiares lutam para que essa memória não seja esquecida, cobrando mais transparência nos arquivos da Igreja e do governo.
Por que essa história importa?
O caso dos órfãos de Duplessis é um lembrete doloroso de como a mistura entre poder político e religioso pode gerar abusos de autoridade. Ele também nos mostra a importância da memória histórica: revisitar o passado é essencial para que injustiças não se repitam.
Para nós, brasileiros que viemos viver no Québec, conhecer essa história é também compreender melhor a sociedade que nos acolhe. Afinal, o Québec de hoje — mais laico, plural e democrático — foi moldado, em parte, pelas feridas abertas no seu passado.
Eu conversei com o William Zimmermann sobre este assunto aqui no PodTeo
Conclusão
Os órfãos de Duplessis não são apenas um capítulo sombrio da história do Québec: eles representam a luta por dignidade, memória e justiça.
Falar sobre esse tema é dar voz às vítimas e lembrar que o progresso de uma sociedade só é real quando ela encara de frente seus erros.
Quer saber mais detalhes? Acompanhe um artigo completo no Québec em foco


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